Uma homenagem ao legado de Cartola
A exposição “Alvoradas de Cartola”, em cartaz no Museu do Samba, localizado no Rio de Janeiro, oferece ao público uma visão profunda e afetiva sobre a trajetória e as criações do compositor Angenor de Oliveira, conhecido como Cartola. Com uma curadoria sensível de Nilcemar Nogueira, fundadora do museu, a mostra retrata não apenas a vida pessoal do sambista, mas também seus amores, canções e a poesia que permeia sua obra. Para quem teve a oportunidade de conviver com o mestre, seja datilografando seus manuscritos ou acompanhando suas composições, a exposição é uma viagem de nostalgia e emoção.
No coração da mostra, que é patrocinada pelo Ministério da Cultura e conta com o apoio de várias instituições, estão mais de 100 itens organizados em sete núcleos temáticos. Entre eles estão “A poética de Cartola”, “Cartola e o morro”, e “Zica é Mangueira, é Rio, é do Brasil”. Cada núcleo é uma janela para diferentes aspectos da vida e da obra de Cartola, revelando objetos pessoais, fotos raras e manuscritos de suas canções, além de um rico material audiovisual.
O espaço expositivo também oferece ilhas de audição, onde os visitantes podem apreciar suas canções e vídeos. Uma sala especial exibe um documentário que mergulha na vida do sambista, produzido originalmente para o Globoplay. Entre os destaques da coleção, está o violão de Cartola, o manuscrito original de “As rosas não falam” e uma réplica do figurino que ele usou em um de seus últimos desfiles pela Mangueira, em 1978.
Novidades literárias e instalações temáticas
Surpreendentemente, a exposição marca a estreia pública de duas poesias inéditas de Angenor de Oliveira. Uma delas, intitulada “Quero mais rugas na face”, é acompanhada de uma interpretação exclusiva da renomada atriz Fernanda Montenegro, que pode ser apreciada em uma das ilhas de áudio dispostas ao longo do circuito.
Ao adentrar a mostra, os visitantes são recebidos por uma instalação que reproduz a fachada da casa onde Cartola e Dona Zica viveram no Morro de Mangueira. Essa cena, eternizada em uma famosa fotografia de Walter Firmo, captura o casal em um momento de contemplação sobre o jardim de rosas que inspirou a célebre canção “As rosas não falam”. Em homenagem à célebre cozinheira e parceira de Cartola, o núcleo dedicado a Dona Zica conta com uma instalação que exibe dezenas de colheres de pau, simbolizando seu talento na culinária.
Reflexões sobre resistência e arte
Ao final da visita, os espectadores têm a oportunidade de assistir a um vídeo singular que combina dramaturgia e documentário sobre a vida de Cartola. A exibição ocorre em uma sala de cinema com apenas 12 lugares, criada especialmente para essa atração, proporcionando uma experiência imersiva e intimista.
Durante o percurso pela exposição, também há áreas dedicadas a vídeos com depoimentos inéditos de amigos e colaboradores do sambista, que trazem à tona suas memórias e experiências ao lado de Cartola. Entre os depoentes, estão Walter Firmo, fotógrafo e amigo próximo, e Dalmo Castello, parceiro em composições marcantes.
Nilcemar Nogueira, em suas palavras, destaca a importância da exposição para o entendimento do legado de Cartola: “Quem visitar a exposição vai entender um pouco do coração e da alma do meu avô. É uma ocasião para sentir a poesia e a sofisticação da sua arte, além de refletir sobre desigualdade e resiliência na forma de poesia. Precisamos dar oportunidades a novos talentos, que podem ser os próximos Cartolas”.

