As Consequências de uma Crise no Mercado Financeiro
Um colapso na bolsa de valores americana, se ocorrer, poderá se tornar uma das crises financeiras mais esperadas da história. Autoridades financeiras, incluindo líderes de grandes bancos e representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), têm alertado para as avaliações exorbitantes das companhias de tecnologia nos Estados Unidos.
Para que as empresas atinjam um retorno de 10% sobre o investimento em inteligência artificial (IA) projetado para 2030, estima-se que elas necessitarão de cerca de US$ 650 bilhões em receitas anuais provenientes dessa tecnologia. Para se ter uma ideia, isso equivale a mais de US$ 400 por ano de cada usuário do iPhone, conforme apontado por análises do banco JPMorgan Chase. Historicamente, expectativas tão elevadas podem ser frustradas, especialmente no início, por novas tecnologias, mesmo que estas venham a alterar o cenário global.
Embora a possibilidade de um crash de mercado não seja uma surpresa para muitos, as implicações desse evento são pouco discutidas. Um fator que contribui para essa falta de reflexão é a atual percepção de que, até o momento, uma queda significativa nas bolsas não necessariamente desencadeará uma crise financeira global.
Ao contrário da recessão do final dos anos 2000, que foi alimentada por uma alavancagem excessiva e pela complexidade das inovações financeiras que alimentaram a bolha imobiliária, a atual euforia em torno da IA é predominantemente suportada por capital próprio. Isso sugere uma estrutura mais robusta, mas não isenta de riscos.
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A economia real tem se demonstrado, nos últimos anos, bastante resistente a choques externos, como a crise energética na Europa e as tarifas comerciais adotadas pelos Estados Unidos. Dessa forma, recessões têm se tornado fenômenos cada vez mais raros.
Entretanto, ignorar o impacto que grandes perdas no mercado de ações poderiam causar seria um erro. Com o tempo, a opacidade em torno do financiamento das empresas tende a aumentar. Sem a necessidade de um colapso financeiro catastrófico, uma queda acentuada no mercado poderia, sim, arrastar uma economia global, até então considerada resiliente, para a recessão.
A Vulnerabilidade do Consumidor Americano
A raiz dessa vulnerabilidade reside na economia do consumidor americano. Atualmente, as ações correspondem a 21% da riqueza das famílias nos EUA, uma taxa superior em cerca de 25% em relação ao auge da bolha da internet. Além disso, os ativos atrelados à inteligência artificial representaram quase metade do crescimento da riqueza das famílias americanas no último ano. À medida que essas famílias se tornaram mais abastadas, adotaram hábitos de poupança menos rigorosos do que os observados antes da pandemia de covid-19, embora ainda conservadores em comparação ao período do colapso do subprime.
Um colapso do mercado de ações reverteria essas tendências de forma significativa. Estimativas indicam que uma queda nas ações similar à que se seguiu ao estouro da bolha da internet reduziria o patrimônio líquido das famílias americanas em cerca de 8%. Essa diminuição poderia provocar uma retração considerável no consumo, o que, segundo cálculos, representaria uma redução de 1,6% do PIB – uma cifra capaz de levar os Estados Unidos, país que já enfrenta desafios no mercado de trabalho, a uma recessão.
O impacto sobre o consumidor americano seria substancial, superando o provável efeito de uma diminuição nos investimentos em inteligência artificial, a maior parte dos quais se destina à importação de chips de Taiwan. Essa situação se agravaria, espalhando-se para a Europa, que já enfrenta baixo crescimento, e para a China, atualmente em um estado deflacionário, ampliando os efeitos das tarifas comerciais impostas na era Trump.
Considerando que investidores internacionais detêm cerca de US$ 18 trilhões em ações americanas, o efeito riqueza pode ser sentido em escala global.
Possibilidades de uma Recessão Controlada
Ainda assim, uma recessão global originada nos mercados de ações não precisa ser profunda. Muitas economias conseguiram evitar crises severas após o estouro das bolhas financeiras no passado, como foi o caso após o colapso da bolha da internet. É digno de nota que o Federal Reserve (Fed) possui margem de manobra para cortar taxas de juros e estimular a demanda, e alguns países poderiam responder com pacotes de estímulos fiscais.
Contudo, é inegável que uma recessão revelaria fragilidades no cenário econômico e geopolítico atual, comprometendo ainda mais a hegemonia americana, dificultando a saúde das finanças públicas e intensificando tendências protecionistas.
Nas economias mais vulneráveis, preocupações fiscais podem fazer com que os rendimentos dos títulos de longo prazo se mantenham estáveis ou até aumentem, enquanto os bancos centrais poderiam cortar taxas a curto prazo – uma dinâmica que já foi observada com frequência nos últimos dois anos. É desafiador imaginar que os mercados permitiriam que países como a França ou o Reino Unido tivessem amplo espaço para implementar estímulos fiscais significativos.

