Benefícios de um Detox Digital
Um estudo recente, conduzido por John Torous, professor associado da Harvard Medical School e diretor de psiquiatria digital do Beth Israel Deaconess Medical Center, revelou que passar uma semana com menos redes sociais pode levar a uma redução significativa nos sintomas de ansiedade, depressão e insônia entre jovens. A pesquisa, publicada na revista científica “JAMA Network Open”, envolveu a análise de dados coletados via celular e questionários respondidos por participantes dos Estados Unidos.
Um achado surpreendente foi que, apesar da diminuição no tempo gasto nas redes, que caiu de 1,9 hora para 0,5 hora diariamente, o uso total do celular não se alterou drasticamente. Os jovens pareceram preencher esse espaço de tempo com outras atividades, mantendo uma média de uso semelhante, mas focando mais em apps que não estão diretamente relacionados às redes sociais.
Em uma entrevista ao Harvard Gazette, Torous destacou que muitos estudos muitas vezes revelam médias que podem esconder variações nas experiências individuais. Ele aponta que um detox digital pode ser uma abordagem ‘rústica’, sugerindo que deve ser mais adaptável às necessidades de cada pessoa, já que a resposta ao uso de redes sociais varia amplamente entre os indivíduos.
A pesquisa recrutou jovens entre 18 e 24 anos, acompanhando 373 participantes ao longo de três semanas. Inicialmente, duas semanas foram dedicadas à coleta de dados em uma linha de base, seguidas por uma semana de detox opcional, que focou em cinco aplicativos populares: Facebook, Instagram, Snapchat, TikTok e X. Os pesquisadores combinaram informações sobre o uso dos apps, obtidas diretamente das configurações dos celulares, com dados coletados por sensores (que monitoram tempo dentro de casa e padrões de uso da tela), além de escalas clínicas, como PHQ-9, GAD-7 e índices de insônia.
Entre os pontos fortes do estudo, destaca-se a utilização de dados mais objetivos e medidas padronizadas. No entanto, algumas limitações foram identificadas: a natureza voluntária do detox (sem randomização), a amostra predominantemente composta por universitárias e usuárias de iPhone, e a falta de um follow-up, o que impossibilita conclusões sobre a duração dos efeitos positivos observados.
Os resultados sugerem que a redução no uso de redes sociais pode beneficiar certos jovens, mas não apoiam a ideia de uma solução universal do tipo ‘delete tudo e pronto’. Como os próprios autores do estudo afirmam, a diminuição do uso por um curto período foi associada a melhorias em sintomas como ansiedade e depressão, mas a duração desses efeitos ainda requer mais investigação.
Em suma, os dados mostram que enquanto a redução do uso de redes sociais pode ser eficaz para alguns, a eficácia depende de fatores individuais, como o estado de saúde mental prévio e a relação que cada um tem com as plataformas digitais. Assim, não é tão simples quanto pressionar um botão nas configurações do celular para obter esses benefícios.

