Tragédia e Suspeitas de Negligência Médica
A morte da pequena Joana Garcia Campos, com apenas 1 ano e 11 meses, no dia 28 de julho, após atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pediátrica de São Pedro da Aldeia, gerou uma onda de questionamentos sobre possíveis falhas nos serviços médicos. A situação se agravou quando, após a transferência para o Hospital Pediátrico Lagos (HP Lagos), foram constatadas condições alarmantes que levaram à morte da criança. A Polícia Civil iniciou um inquérito para investigar o caso, motivado pela insistência da família e pelo apoio da Defensoria Pública do Estado.
De acordo com os relatos dos pais, Joana foi levada à UPA no dia 24 de julho, apresentando sintomas leves de virose durante as férias em Cabo Frio, onde estavam para visitar a avó. A família, residente em Tomás Coelho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ficou preocupada quando a menina e sua irmã gêmea começaram a apresentar sinais gripais. A mãe, Christinny Garcia, relatou que a decisão de procurar atendimento foi tomada após o surgimento de um caroço no pescoço de Joana.
Durante a consulta, foram realizados exames laboratoriais em ambas as meninas, incluindo coleta de sangue em Joana. O resultado indicou alterações compatíveis com uma virose. A médica plantonista prescreveu medicamentos e orientou que, se os sintomas persistissem, elas deveriam retornar à unidade. A profissional ainda alertou que poderia haver risco de febre ou dor de garganta, mas não destacou a gravidade da situação.
Desdobramentos e Ações Médicas Questionáveis
No entanto, no dia 26, Joana apresentou agravamento no quadro clínico, com dificuldades respiratórias. Na manhã seguinte, a mãe voltou à UPA, onde, segundo seu relato, um médico avaliou que a criança estava com virose e secreção acumulada. Foi sugerida a nebulização e lavagem nasal para aliviar os sintomas. Contudo, antes que o procedimento fosse realizado, uma medicação intravenosa foi administrada à menina, sem que a família fosse informada sobre qual fármaco estava sendo utilizado.
Christinny descreve o momento angustiante em que a condição de sua filha se deteriorou rapidamente. “Quando colocaram a máscara da nebulização, ela ficou molenga. A enfermeira disse que era por desidratação e logo saiu correndo para chamar ajuda. Foi um turbilhão, médicos pedindo medicamentos, e alguns gritando por mais. Lembro que um deles disse ‘pega aquele mesmo’”, lembrou a mãe, visivelmente abalada.
Os relatos a seguir foram ainda mais desoladores. Joana começou a apresentar sinais de vida em perigo, revirando os olhos e se debatendo. Tentativas de entubação foram feitas conforme a situação se tornou mais crítica. Uma assistente social, que estava presente, informou posteriormente que a criança havia passado por várias paradas cardiorrespiratórias, uma delas durando impressionantes 25 minutos.
Transferência e Investigações
A gravidade do quadro levou à transferência imediata de Joana para o HP Lagos, onde sua condição já era considerada crítica. A pediatra da família conseguiu falar com a equipe médica que a atendeu, e foi informada que Joana chegou sem ter sido entubada na UPA, apresentando sepse pulmonar e choque séptico. Infelizmente, apesar das tentativas de reanimação e entubação, a criança não sobreviveu e faleceu na madrugada do dia 28.
Em busca de respostas, Christinny e o pai tentaram descobrir qual medicação havia sido utilizada na UPA. O que ouviram de uma fonte não oficial foi que o remédio era para asma, pneumonia e bronquite. A mãe se queixa da falta de esclarecimento sobre o uso do fármaco e da condição clínica de Joana durante o atendimento inicial.
Obstáculos e Lutas da Família
Além da perda devastadora, a família enfrentou desafios ao tentar liberar o corpo da menina. Christinny relata que uma médica a aconselhou a não aceitar a certidão de óbito emitida pelo hospital, sugerindo que o corpo fosse encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML) de Cabo Frio. Ao se dirigir à 125ª Delegacia de Polícia, a resistência foi evidente; um policial se negou a registrar o caso. “Só após a intervenção do defensor público conseguimos registrar o boletim de ocorrência e solicitar o laudo”, explica a mãe.
O atestado de óbito emitido pelo HP Lagos indicou como causas a sepse pulmonar e choque séptico. O exame de necropsia realizado pelo IML teve resultados inconclusivos, levando a Polícia Civil a solicitar exames complementares ao Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto (IMLAP). Enquanto isso, a família permanece em um impasse, buscando a cremação de Joana, que se tornou mais complicada devido ao status da morte como suspeita. Embora a liberação do corpo tenha sido inicialmente aprovada, a decisão foi revista e o processo de liberação se tornou um verdadeiro desafio burocrático.
“Fazemos tudo isso para dar um sepultamento digno à nossa filha. A dor é imensa, e estamos correndo contra o tempo. Joana faria dois anos hoje, e a saudade é insuportável”, desabafa Christinny.
A tragédia gerou comoção nas redes sociais, e a família continua buscando respostas e justiça pelo que aconteceu. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou em nota que Joana foi atendida adequadamente, e que estava à disposição para quaisquer esclarecimentos, mas não confirmou se uma sindicância foi aberta para apurar os fatos. O Hospital Pediátrico Lagos, por sua vez, defendeu o atendimento prestado e negou a necessidade de investigação. A Polícia Civil informou que a investigação está em andamento e que busca esclarecer todos os detalhes do caso.