Ativista Chega ao Rio Após Detenção em Israel
O professor e educador popular Nicolas Calabrese, primeiro membro da delegação brasileira da Global Sumud Flotilla a ser deportado de Israel, chegou ao Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, na noite desta segunda-feira (6). Ele havia desembarcado na Turquia no último sábado (4) e agora relata experiências de violência psicológica e condições desumanas de detenção.
Durante o período em que esteve preso em Israel, Calabrese enfrentou situações de privação, incluindo escassez de alimentos e restrições no acesso à água potável. A Embaixada do Brasil em Tel Aviv realizou a primeira visita consular à prisão de Ktzi’ot, localizada no deserto de Naqab, e os relatos dos ativistas indicam um quadro preocupante.
Violência e Intransigência
Calabrese, que possui cidadania argentina e italiana, reside no Brasil há mais de uma década e é militante do PSOL e membro da Rede Emancipa, um movimento voltado para a educação popular. Sua deportação foi realizada em um voo organizado pela Embaixada da Turquia, que também transportou 137 ativistas de outros países. O custo da passagem foi coberto pelo consulado italiano.
Segundo informações divulgadas pela Global Sumud Flotilla, a deportação ocorreu de maneira opaca; os advogados e delegações não receberam informações sobre os ativistas que foram removidos e seus destinos. A missão tinha como objetivo levar alimentos e remédios à população de Gaza e contava com mais de 40 embarcações e 461 ativistas de diversas nações. Os barcos foram interceptados pela Marinha de Israel em águas internacionais no dia 1º de outubro.
Situação dos Ativistas Detidos
Até o momento, nenhum dos outros 13 brasileiros envolvidos na missão humanitária foi deportado. O grupo inclui personalidades como o cineasta Miguel Viveiros de Castro e a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), que ainda permanecem detidos. Calabrese relatou episódios de violência psicológica e dificuldade de acesso a alimentos e água potável durante sua permanência em Israel, enquanto a embaixada brasileira se mobiliza para garantir a libertação dos outros integrantes da delegação.
A Embaixada do Brasil em Tel Aviv expressou preocupação e cobrou explicações das autoridades israelenses, além de protestar contra os maus-tratos sofridos pelos ativistas. O governo brasileiro também reiterou seu pedido pela libertação imediata dos detidos.
Protestos e Condições de Detenção
Quatro brasileiros, identificados como Thiago Ávila, João Aguiar, Bruno Gilga e Ariadne Telles, estão em greve de fome como forma de protesto contra as condições de prisão e o bloqueio imposto a Gaza. Ariadne sinalizou que iniciaria uma greve de sede caso não houvesse progresso até o dia 6 de outubro.
Advogados da organização Adalah, que acompanha o caso, relataram que diversas audiências judiciais foram realizadas sem aviso prévio e sem representação legal, o que configura uma violação das normas internacionais de direitos humanos. Relatos de maus-tratos físicos e psicológicos também foram documentados, com casos de ativistas que foram impedidos de rezar e mulheres que não puderam usar o hijab.
Repercussão Internacional e Acompanhamento do Caso
A ação do governo israelense foi classificada pelo Brasil como uma “operação militar condenável”, e o Itamaraty confirmou que os 13 brasileiros permanecerão presos em Ktzi’ot, mas devem ser deportados de Israel na terça-feira (7). Eles deixarão a prisão pela manhã e serão levados até a Ponte Allenby, na fronteira com a Jordânia, onde entrarão em território jordaniano.
A chegada à Amã, a capital jordaniana, está prevista para o meio-dia (horário local). A Embaixada do Brasil em Amã prestará assistência consular e médica aos deportados, enquanto representantes da embaixada em Tel Aviv acompanharão a situação, embora Israel tenha proibido o contato direto com os ativistas durante o trajeto.
