Operação da PF Revela Conexões entre Facção e Poder Público
Uma série de investigações lideradas pela Polícia Federal, com autorização do Supremo Tribunal Federal, traz à tona a preocupante infiltração do Comando Vermelho em esferas cruciais do poder público do Rio de Janeiro. A reportagem da BBC News Brasil, assinada por Carol Castro, revela que, entre os detidos nos últimos meses, estão figuras de destaque, como o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Rodrigo Bacellar, o deputado estadual TH Joias e o desembargador Macário Ramos Júdice Neto. Os dados coletados indicam que esses indivíduos, em diferentes graus, teriam favorecido os interesses da facção criminosa.
De acordo com os investigadores, TH Joias é o único diretamente ligado ao Comando Vermelho até o momento. A Polícia Federal alega que o deputado estava envolvido em atividades de lavagem de dinheiro da organização, facilitando a compra de armas e mantendo contatos próximos com líderes da facção. Mesmo diante das suspeitas, ele conseguiu um assento na Alerj em 2024, após mudanças políticas no governo do estado.
Vazamentos de Informações e Conexões Suspeitas
A evolução da investigação ganhou força após a PF detectar um vazamento de dados confidenciais relacionado à Operação Zargun. Mensagens obtidas do celular de TH Joias revelam que Rodrigo Bacellar teria alertado o deputado sobre a operação policial, indicando-lhe que retirasse objetos de sua residência antes da execução dos mandados. Para a PF, este incidente sugere uma tentativa de proteger outros políticos com ligações com o Comando Vermelho.
A gravidade do caso se intensifica com a revelação de indícios de envolvimento do Judiciário. A PF aponta que o desembargador Macário Júdice, responsável pelo processo no TRF-2, teria compartilhado informações sobre a operação. As mensagens analisadas mostram um vínculo estreito entre ele e Bacellar, incluindo nomeações mútuas de aliados para cargos estratégicos.
Impacto das Investigações no Cenário Político
Especialistas consultados durante as investigações enfatizam que, historicamente, inquéritos envolvendo o crime organizado no Rio raramente atingem os níveis mais altos do poder. O sociólogo Daniel Hirata observa que o atual panorama representa uma mudança significativa, ao atingir cúpulas do Legislativo estadual e membros do Judiciário.
A investigação também aponta a influência política exercida por Bacellar durante sua relação estreita com o governador Cláudio Castro. Relatórios indicam que o deputado desempenhou um papel crucial em decisões que envolvem a segurança pública, abrangendo nomeações para cargos sensíveis na Polícia Civil e articulações dentro do Executivo estadual.
Expansão da Influência do Comando Vermelho
Além do foco no núcleo estadual, a Polícia Federal investiga tentativas de expansão da influência do Comando Vermelho em cidades da Baixada Fluminense. Casos recentes destacam vereadores que foram presos ou estão sob investigação por suspeitas de colaboração com facções, seja por laços familiares, apoio logístico ou repasse de informações sobre operações policiais.
As autoridades afirmam que as investigações estão em andamento e não descartam novos desdobramentos. O Supremo Tribunal Federal reafirma que os indícios reunidos apontam para a existência de uma estrutura de proteção política ao crime organizado, com ramificações que se estendem pelo Legislativo, Judiciário e Executivo do Rio de Janeiro.

