A Situação Fiscal de Cabo Frio
A nova edição do Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF) de 2024 traz à tona um quadro preocupante para a Região dos Lagos. Enquanto a maioria das cidades apresenta dificuldades financeiras, Cabo Frio se destaca negativamente, encerrando o ano de 2024 com suas contas em estado crítico. Os dados da Firjan colocam o município por baixo em diversos indicadores-chave, como Autonomia e Investimentos, evidenciando a gravidade da situação.
Em uma análise mais ampla, as cidades da Região dos Lagos obtiveram um IFGF de 0,5817 pontos. Embora esse resultado ainda sugira dificuldades, é um número ligeiramente superior à média dos municípios fluminenses, que ficou em 0,5587. O que impressiona é que, mesmo em um contexto econômico favorável e com repasses maiores de recursos, a saúde financeira da região não melhora. O presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano, enfatiza a necessidade de um maior compromisso dos gestores públicos com a administração do dinheiro público. “É imperativo que a sociedade cobre um compromisso real com a gestão financeira”, afirma Caetano.
A Fragilidade dos Investimentos Públicos
O que realmente chama a atenção, segundo a Firjan, é que a fragilidade no estado do Rio de Janeiro se reflete na baixa prioridade dada aos investimentos públicos. Em média, os municípios fluminenses destinam apenas 4,6% de sua receita a investimentos, uma porcentagem que representa menos da metade da média nacional, que gira em torno de 10,2%. Na Região dos Lagos, o indicador de Investimentos atingiu apenas 0,4626, reforçando a ideia de que a situação é crítica.
Dentro deste cenário, Cabo Frio se destaca de maneira negativa. O município obteve uma nota alarmante de 0,0488 em Investimentos, demonstrando uma destinação irrisória de suas receitas para obras e melhorias, patamar bem inferior ao de cidades vizinhas. Em contraste, Iguaba Grande obteve nota máxima de 1,0000, enquanto Araruama e Saquarema alcançaram, respectivamente, 0,8251 e 0,7740, mostrando que é possível uma gestão mais eficiente na região.
A Baixa Autonomia e os Gastos com Pessoal
A análise da Firjan revela que a baixa autonomia financeira é uma das maiores fragilidades da Região dos Lagos, que apresenta uma média de 0,3303. Esse resultado indica que muitos municípios têm dificuldade em gerar receita local suficiente para cobrir suas despesas essenciais, dependendo majoritariamente de transferências de recursos. Cabo Frio se destaca negativamente nesse critério, com uma nota de apenas 0,1151, um cenário que agrava ainda mais a situação fiscal da cidade.
No que diz respeito aos Gastos com Pessoal, os municípios do estado mostram uma gestão relativamente boa, com média de 0,7174. A Região dos Lagos também acompanha essa tendência, com nota de 0,7623. Contudo, Cabo Frio vai na contramão dessa realidade: a cidade recebeu nota zero nesse indicador, o que significa que mais de 60% de sua receita é consumida pelo pagamento de pessoal, superando o limite estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa condição alarmante torna Cabo Frio a cidade com a situação mais crítica da região. Em contraponto, Saquarema, Iguaba Grande e Araruama obtiveram nota máxima de 1,0000, indicando uma gestão orçamentária eficiente.
A Liquidez e os Desafios Futuros
A Liquidez, que analisa a capacidade das prefeituras em honrar suas obrigações financeiras de curto prazo, apresenta resultados variados. A região, em geral, mostra-se capaz, com nota de 0,7718. Entretanto, Cabo Frio, com um índice de 0,4607, demonstra uma capacidade limitada, inferior à média regional. Essa baixa liquidez, associada à falta de autonomia e a um comprometimento excessivo com pessoal, ilustra a complicada situação fiscal do maior município da Região dos Lagos.
Jonathas Goulart, gerente de Estudos Econômicos da Firjan, enfatiza que reformas são fundamentais para melhorar a eficiência da gestão municipal. “É crucial revisar os critérios de distribuição de recursos, para que incentivem os gestores públicos a aumentar a arrecadação local e assegurem uma gestão de qualidade”, conclui Goulart. A situação é desafiadora, e a necessidade de ação se torna cada vez mais evidente.