Estudo Revela Desafios na Responsabilização de Agentes da Ditadura
Um recente estudo revela um cenário preocupante sobre a responsabilização de agentes envolvidos em violações de direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil. A investigação, que abrangeu o período de 2012 a 2022, identificou 139 agentes citados em 53 ações penais movidas pelo Ministério Público. Desses, 96 morreram antes que qualquer denúncia pudesse ser formalmente apresentada, ou durante o processo judicial. Apenas 72 chegaram a ser processados, mas nenhum deles foi condenado de maneira definitiva.
Os obstáculos à responsabilização foram destacados pelas autoras do estudo, que identificaram a Lei da Anistia e a prescrição penal como as principais barreiras. A lentidão dos processos judiciais foi também apontada como um entrave significativo. Exemplos notáveis de agentes que tiveram a punibilidade extinta incluem Carlos Ustra, que chefiou o Doi-Codi do 2º Exército, e Alcides Singillo, que atuou no Departamento de Ordem Política e Social. Ustra, que faleceu em 2015, teve sete processos extintos, enquanto Singillo teve três.
Além deles, outros nomes como Sérgio Fleury e Ênio Pimentel, envolvidos em graves denúncias, faleceram sem enfrentar a Justiça. A pesquisa revela que, dentre as 53 denúncias, 38 foram rejeitadas, com apenas duas resultando em condenação, ambas revertidas em instâncias superiores devido à prescrição.
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Fonte: agazetadorio.com.br
Desafios Jurídicos e a Esperança por Mudanças no STF
O estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também menciona o caso de Antonio Waneir Pinheiro Lima, sargento envolvido em torturas, que teve sua denúncia inicialmente rejeitada com base na Lei da Anistia. Contudo, a reabertura do caso sobre os crimes cometidos na “Casa da Morte” traz esperança para algumas famílias que buscam justiça. O processo aguarda uma decisão na 1ª Vara Federal de Petrópolis.
Um aspecto relevante mencionado no estudo é a posição do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Lei da Anistia. Em 2010, o STF rejeitou um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para revisar essa legislação. Atualmente, existem pelo menos dez recursos pendentes sobre o tema, que podem redefinir a possibilidade de responsabilização penal de agentes do Estado por crimes ocorridos durante a ditadura.
Compromissos Internacionais e a Necessidade de Justiça
A professora Carla Osmo, coordenadora da Clínica de Direitos Humanos da Unifesp, enfatiza que o Brasil já acumula condenações internacionais por violações de direitos humanos durante o regime militar. Ela menciona os casos emblemáticos da Guerrilha do Araguaia e do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ressaltando que o Brasil está atrasado em suas obrigações internacionais de investigar e processar os responsáveis.
As autoras do estudo acreditam que a análise dos recursos pendentes no STF pode abrir um novo caminho para a responsabilização dos agentes da ditadura. Elas salientam que, embora a passagem do tempo crie uma barreira significativa, a presença ativa desses recursos no STF representa um horizonte de mudança possível.
Citando um caso específico, em fevereiro, o STF começou a discutir a constitucionalidade da aplicação da Lei da Anistia em relação ao crime de ocultação de cadáver, uma questão que poderá ter impactos diretos na justiça para as vítimas da ditadura. A análise de casos como o desaparecimento de militantes da Guerrilha do Araguaia mostra a urgência da questão e a necessidade de uma resposta decisiva do STF.
Familiares em Busca de Justiça
O sentimento de urgência é palpável entre as famílias que buscam respostas e justiça. Histórias como a do ex-deputado Rubens Paiva e de outros militantes desaparecidos são lembradas como exemplos de uma luta contínua pela verdade e pela memória. Cada caso representa um clamor por justiça que, se não atendido, poderá ser perdido para sempre.
A luta das famílias e das organizações de direitos humanos é um testemunho da necessidade de um sistema judicial que não apenas reconheça as violações passadas, mas também atue ativamente para reparar essas injustiças. O futuro da responsabilização dos agentes da ditadura permanece incerto, mas o caminho para a mudança parece, finalmente, estar sendo pavimentado.

