Análise da Ata do Copom e suas Implicações para a Selic
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil divulgou na última terça-feira (16) a ata de sua reunião, na qual reconhece um arrefecimento gradual da atividade econômica e surpresas positivas na inflação. No entanto, a expectativa de um corte na taxa Selic já em janeiro parece ter diminuído, conforme a interpretação de diversos economistas. O tom cauteloso do documento sugere que a pressão na demanda pode ter um papel significativo nas decisões futuras do Copom.
Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP, o comunicado do Banco Central é claro ao afirmar que ainda não é momento para relaxar a vigilância. Embora tenha reconhecido um arrefecimento na atividade econômica e uma melhora nas expectativas inflacionárias, Megale destaca que os fatores que pressionam a inflação ainda permanecem. “A política monetária está cumprindo seu papel. Contudo, ainda enfrentamos vetores inflacionários adversos, o que exige cautela em nossas próximas ações”, afirmou.
Megale observa que a ata indica a necessidade de manutenção da Selic nos atuais 15% ao ano por um período mais longo, visando garantir a continuidade do processo de desinflação que se observa. Ele argumenta que, apesar das melhorias recentes no cenário inflacionário, o Comitê não demonstra inclinação para iniciar o ciclo de cortes em janeiro.
Visão Crítica dos Especialistas Sobre o Cenário Econômico
O economista-chefe da XP também ressalta que o Copom avalia um ambiente externo como “incerto”, embora identifique uma percepção de desaceleração no consumo das famílias no cenário interno. Além disso, a análise do Banco Central aponta que o mercado de trabalho ainda se encontra em condições apertadas, apesar de alguns sinais recentes de moderação.
Referente à inflação, Megale comentou que, embora os dados mais recentes tenham sido melhores do que o esperado, as expectativas ainda ficam acima da meta estabelecida pelo Comitê. “É importante destacar que os vetores inflacionários continuam a ser adversos”, completou.
Segundo a análise, o Copom deixa claro que precisará de mais tempo e informações antes de considerar um ciclo de flexibilização monetária. “Nosso entendimento é que o Banco Central deve iniciar um ciclo de cortes em março, com uma projeção de seis reduções consecutivas de 0,50 pontos percentuais, resultando em uma Selic de 12% ao final de 2026”, acrescentou Megale.
Opiniões Divergentes Sobre a Possibilidade de Corte
Por sua vez, Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, compartilha da opinião de que o corte de juros em janeiro parece menos viável, dependendo de uma mudança na perspectiva do Copom. Essa alteração necessitará de uma melhora significativa no cenário inflacionário, especialmente na queda das expectativas, um ponto que ainda preocupa o Comitê.
Ela também destacou uma mudança relevante na ata: o reconhecimento de um cenário externo mais favorável, especialmente relacionado ao câmbio, que pode contribuir para a redução da inflação de bens industriais e alimentos. “Os indicadores de atividade apresentam sinais de moderação, refletindo uma desaceleração na inflação dos serviços, ainda que de forma lenta”, observou Vitoria.
Para Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, a recente desaceleração do consumo das famílias e a ancoragem da demanda agregada são aspectos cruciais para o fechamento do hiato do produto. “Entretanto, o cenário do mercado de trabalho continua desafiador, e o BC fará dessa questão uma prioridade”, afirmou.
Tavares ainda acrescentou que, apesar de todos os fatores que poderiam justificar um corte já em janeiro, o Banco Central permanecerá vigilante, sugerindo que o início dos cortes poderá acontecer em março de 2026.
Expectativas do Mercado e Análises Futuras
O banco de investimentos Goldman Sachs, em sua análise, também observou que o Copom demonstra confiança na evolução do cenário base, mas ainda considera prematuro falar sobre uma “vitória” sobre a inflação. O relatório destacou sinais de que a política monetária está surtindo efeito, principalmente em setores mais sensíveis às condições de crédito.
“Embora a atividade econômica esteja se moderando gradualmente, especialmente nos setores mais vulneráveis, ainda assim, não há indícios claros na declaração do Copom que sugiram que um ciclo de normalização das taxas começaria em janeiro”, concluiu o Goldman Sachs.
Embora haja esperanças de um corte em janeiro, março parece ser a data mais provável, conforme avaliação da economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal. Ela acredita que a ata apresenta indícios que podem manter janeiro como uma possibilidade, mas ressalta a necessidade de ajustes na visão do Comitê em relação ao mercado de trabalho e à inflação.

