O Perigo da Automedicação
A automedicação sem supervisão médica é uma prática disseminada entre os brasileiros, especialmente quando se trata de anti-inflamatórios e antibióticos. Muitos consumidores optam por esses medicamentos com base na orientação de amigos, familiares ou até mesmo balconistas de farmácia, sem qualquer respaldo profissional. De acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pelo ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação), 68% das recomendações de medicamentos vêm de pessoas não qualificadas, enquanto 48% são feitas por atendentes de farmácias, que geralmente carecem de formação técnica adequada para essa função.
Essa situação não é apenas arriscada, mas também pode acarretar consequências significativas para a saúde. O farmacêutico Rafael Moreira, docente da Medicina no UniFOA, destaca os perigos que envolvem o uso simultâneo de anti-inflamatórios e antibióticos — uma combinação que frequentemente ocorre entre automedicadores.
“A associação desses medicamentos pode intensificar efeitos colaterais, especialmente os gastrointestinais, como irritação, úlceras e sangramentos. Além disso, drogas como a vancomicina podem apresentar maior toxicidade renal quando utilizadas com anti-inflamatórios”, explica Moreira.
Interações Medicamentosas a Serem Consideradas
O especialista também alerta sobre antibióticos da classe das fluoroquinolonas, como ciprofloxacino e levofloxacino, que requerem atenção redobrada: “Esses medicamentos podem ter sua eficácia diminuída se usados em conjunto com anti-inflamatórios e podem induzir alterações no ritmo cardíaco, devido ao prolongamento do intervalo QT”, ressalta.
Moreira enfatiza que a interação entre esses fármacos pode comprometer tanto a segurança do paciente quanto a efetividade do tratamento: “Essa combinação pode aumentar a probabilidade de efeitos adversos, como lesões gástricas, alterações na microbiota intestinal e sangramentos. Portanto, a prescrição responsável é ainda mais necessária”, alerta.
Apesar dos potenciais riscos, o profissional reconhece que existem condições clínicas que podem justificar essa combinação, como em casos de abscessos dentários, onde a redução da dor e da inflamação pode facilitar um tratamento eficaz.
Importância do Conhecimento em Farmacologia
riscos individuais, especialmente em pacientes com histórico de problemas gástricos ou renais, ou que estejam fazendo uso de anticoagulantes”, orienta.
Os alunos dos cursos de saúde do UniFOA são instruídos, ao longo de sua formação, sobre farmacologia, preparando-os para atuar de maneira consciente e promover o uso seguro e responsável de medicamentos. “Entender o mecanismo de ação, a farmacocinética e as possíveis interações entre medicamentos é vital para garantir prescrições mais seguras e efetivas”, acrescenta Moreira.
Outro aspecto a ser considerado é o impacto do uso prolongado ou repetido de anti-inflamatórios e antibióticos sobre a microbiota intestinal. Os anti-inflamatórios podem prejudicar a integridade da barreira intestinal, enquanto alguns antibióticos alteram a composição da microbiota, favorecendo a proliferação de patógenos oportunistas e o surgimento de novas doenças.
Os Perigos da Automedicação
Por fim, o especialista ressalta os riscos associados à automedicação, que variam desde o agravamento de condições clínicas até falência renal e resistência bacteriana: “O uso inadequado de antibióticos resulta na seleção de bactérias resistentes, o que prejudica a eficácia dos tratamentos e pode aumentar o número de internações hospitalares”, alerta.
Para combater esse cenário, Moreira defende a necessidade de uma atuação colaborativa entre os profissionais de saúde: “É fundamental que todos se engajem em ações de conscientização e educação sobre o uso responsável de medicamentos, promovendo tratamentos seguros e sempre supervisionados por profissionais qualificados.”